Captura de CO2: que contributo para a descarbonização?

Para reduzir em grandes volumes as emissões de gases com efeito estufa, a indústria está a explorar as soluções de captura de CO2. Para além da neutralidade carbónica, certas aplicações podem até gerar emissões negativas. 

E se fossemos capazes de absorver o CO2 presente nas emissões industriais antes mesmo de este se espalhar na atmosfera?

Este é o princípio inerente às tecnologias de captura de carbono e a razão pela qual poderemos ver este tipo de soluções cada vez mais presente no panorama industrial.

A ideia não é nova: na Noruega, a empresa de petróleo Equinor (anteriormente Statoil) utiliza tecnologias de captura de carbono desde 1996. Também a captura direta no ar, desenvolvida principalmente pela start-up Suiça Climeworks nos últimos 12 anos, tem vindo a alcançar grandes progressos. 

O preço do carbono

Nos setores industrial e energético, a implementação destas tecnologias está ainda numa fase muito inicial. De acordo com a Agência Internacional de Energia, em 2020, a capacidade anual de captura de CO2 atingiu as 40 milhões de toneladas. Dez anos antes rondava as 15 milhões de toneladas.

Porque não se verificou um crescimento maior nesse tempo? Um dos fatores relaciona-se com um contexto económico desfavorável. “Existia uma diferença demasiado grande entre o custo do CO2 e o custo da captura de carbono, o que fazia desta última uma atividade pouco rentável. Por outras palavras, poluir tinha um custo não suficientemente alto para tornar interessante capturar e armazenar  CO2”, explica Johann Clere, Diretor Internacional da Veolia para a captura de carbono.

Desde então, a tendência começou a mudar. O preço das quotas de CO2 continua a aumentar nomeadamente na Europa: em Agosto ultrapassou os 60 euros por tonelada de carbono, contra os 30 euros verificados no final de 2020. Em certos países, como o Reino Unido e os Estados Unidos da América, vários mecanismos estão a ser atualmente introduzidos para encorajar o desenvolvimento das infraestruturas de captura de carbono , cujo custo "tem vindo a reduzir-se com economias de escala e o desenvolvimento de novas tecnologias", afirma Johann Clere.

O preço das quotas de CO2 continua a aumentar em toda a Europa.

Estaremos a caminhar para uma economia circular de carbono?

Enquanto que o CO2 capturado hoje é principalmente armazenado em reservatórios geológicos subterrâneos, este constitui já hoje um recurso cujo valor poderia ser ampliaco . Quando isolamos as moléculas de CO2 , através de solventes químicos, elas passam a poder ser utilizadas em variadas aplicações industriais, como sejam a produção de betão e cimento, bebidas gaseíficadas ou mesmo combustíveis de baixo carbono e  hidrogénio verde ou azul para o transporte aéreo ou marítimo de amanhã.

Em 2017 a Veolia uniu esforços com a start-up Carbon Clean, sediada em Londres, para desenvolver soluções de captura dez vezes mais compactas e consequentemente com custos de investimento significativamente mais reduzidos. O Grupo planeia testar em 2022 a sua nova tecnologia miniaturizada numa das centrais de valorização energética que gere no Reino Unido. O objetivo é extrair e purificar o CO2 a partir das emissões dos gases de combustão, transformando-o num produto que possa ser integrado numa nova economia circular do carbono.

 


Objetivo: alcançar carbono negativo

Mas como? Por exemplo, quando capturamos CO2 biogénico (de origem não fóssil) como aquele que é emitido pelas incineradoras de resíduos domésticos ou centrais de biomassa. “Se capturamos e armazenados esse CO2 biogénico, estaremos potencialmente a remover mais CO2 da atmosfera do que aquele que emitimos“, explica Johann Clere, acrescentando que a Veolia gere quantidades substanciais deste tipo de CO2 removido da atmosfera através da fotossíntese e geralmente reposto por processos biológicos e antrópicos. 

O potencial da remoção de carbono para este tipo de atividade industrial é tão mais significativo quanto é interessante o resultado de carbono que gera. De acordo com um relatório interno da Veolia, para capturar uma tonelada de CO2, serão emitidos até 300 quilos de CO2, mas estes podem ser reduzidos para apenas 50 quilos de CO2 dependendo desde logo do mix energético do país e do potencial de valorização do calor e vapor associados ao processo aplicado em cada caso.

Outro exemplo é a parceria entre a Veolia e a TotalEnergies no âmbito do desenvolvimento de um projeto de investigação na refinaria de La Mède, perto de Marselha, com o objetivo de produzir biocombustíveis através da cultura de microalgas a partir do CO2.

Todas estas tecnologias traduzem em formas de ampliar a nossa capacidade para absorver o excesso de CO2 presente na atmosfera.