No rasto de novas variantes SARS-CoV-2 a partir das águas residuais

Um ano depois do início da pandemia, variantes de SARS-CoV-2 emergem em todo o mundo. Inglaterra, África do Sul e mais recentemente no Brasil, estas mutações do vírus, potencialmente mais contagiosas,  preocupam as autoridades e a sociedade em geral. A 15 de janeiro, o Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou a uma maior partilha de informação sobre o vírus e sobre a sequenciação do seu genoma, bem como a uma melhor colaboração científica sobre os aspetos críticos que ainda permanecem desconhecidos. O Grupo Veolia está a trabalhar ativamente para acelerar a pesquisa e conhecimento sobre o tema.

 

Mobilizado para ajudar a combater a situação de pandemia por Covid-19, o Grupo Veolia desenvolveu uma nova solução - a Vigie-Covid-19 - que permite identificar de forma precoce a circulação do vírus na comunidade, apoiando os processos de decisão das autoridades locais face às cadeias de contágio.

Nos últimos meses, a Veolia tem vindo a trabalhar com as autoridades locais para antecipar o  aparecimento de novos surtos epidémicos através da solução Vigie-Covid-19, e utilizando a técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction), que permite vigiar a presença do coronavírus SARS-CoV-2 nas águas residuais e dessa forma antecipar as tendências epidemiológicas nas respetivas comunidades.

Esta solução, já implementada em França, baseia-se num programa que mede vestígios do material genético do coronavírus SARS-CoV-2 nas águas residuais que chegam às ETAR (leituras semanais). É uma solução adaptável a diferentes realidades locais, quer em duração (prazos de monitorização de 3 a 6 meses) e área (número de pontos de amostragem consoante a geografia, clima, meteorologia, etc.)

 

Complementarmente, e em resposta às mutações do vírus, o laboratório de Inovação e Desenvolvimento do Grupo, está já a conduzir uma iniciativa experimental  destinada a sequenciar o genoma do SARS-CoV-2 nas águas residuais de forma a identificar as suas variantes. 

Integra também uma parceria com o IPMC (Institut de Pharmacologie Moléculaire et Cellulaire) - uma unidade de investigação conjunta do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) e da UCA (Universidade de Côte d'Azur), para identificar variantes SARS-CoV-2 nas águas residuais

Confirmando a presença de novas variantes

Os resultados iniciais obtidos pelo IPMC em 10 estações de tratamento de águas residuais operadas pela Veolia, cuja rcolha de amostras e análises foram realizadas na primeira metade do mês de Janeiro, revelaram a presença da principal variante europeia de  SARS-CoV-2 nas águas residuais, mas não detetaram as variantes de Inglaterra, África do Sul ou Brasileira até ao limite de 1% que a abordagem utilizada permite. Estes resultados, obtidos em 10 instalações, estão em linha com os apresentados pelas autoridades de saúde francesas na mesma semana, que estimava uma incidência da variante inglesa como responsável por  1 a 2% dos casos de COVID-19 diganosticados a nível nacional.

*PCR, que significa reação em cadeia da polimerase (do inglês polymerase chain reaction), é uma técnica da biologia molecular para amplificar uma única ou poucas cópias de um pedaço de DNA 

Em 2003, a Organização Mundial de Saúde recomendou este tipo de abordagem para combater a poliomielite  (poliovirus). A comunidade científica internacional concorda hoje que as águas residuais refletem parcialmente o estado de saúde da população e podem funcionar como um indicador ‘precoce’ da epidemia por Covid-19, quando comparado com outros indicadores “tardios”, como é o caso do número de hospitalizados.


Uma ferramenta relevante

Identificar a presença de todas as variantes do vírus SARS-CoV-2 nas estações de tratamento de águas residuais pode ajudar a tornar mais preciso e económico o desenho do mapa de circulação das mutações do SARS-CoV-2 e representa um novo e importante indicador no combate à propagação da epidemia com a identificação de mutações de alto risco.  Aplicado em diferentes escalas, desde um bairro a uma cidade ou mesmo uma região, este tipo de abordagem fornece às autoridades locais uma ferramenta de diagnóstico adicional, que pode por exemplo guiar estratégias de  rastreio nas zonas identificadas com a maior presença de variantes ou mesmo apoiar a implementação de um plano de vacinação nas áreas mais afetadas. 

O Grupo Veolia vai continuar a investigar o genoma dos vírus encontrados nas águas residuais de forma a estabelecer uma consistência entre o que é encontrado numa ETAR e a circulação do vírus na população, e dessa forma apoiar as autoridades públicas na antecipação das suas estratégias sanitárias.