Reutilização de água residual - o futuro no presente

por João VENÂNCIO (1) ; Luís JACINTO (2)

(1) Departamento de Suporte Técnico - Direção Água, Veolia Portugal

(2) Direção de Serviços e Suporte Técnico - Direção Água, Veolia Portugal

A escassez de água é uma realidade global que se agrava a cada dia. Em Portugal, as projeções para 2050 indicam um cenário de elevado stress hídrico, com 90% dos desastres naturais relacionados com a água. Mas e se a solução para este desafio puder estar naquilo que consideramos 'residual'? Na Veolia, acreditamos que a água residual é um recurso valioso à espera de ser transformado. É tempo de abraçar a reutilização de água residual – o futuro no presente.

O Desafio Global e Local da Água

Vivemos num planeta onde cerca de 2,4 mil milhões de pessoas enfrentam a escassez de água. As alterações climáticas, com eventos extremos cada vez mais frequentes, o crescimento populacional e a crescente contaminação dos ambientes aquáticos por micropoluentes químicos e diversos microrganismos, estão a pressionar os nossos recursos hídricos como nunca antes. As Nações Unidas já alertaram para o risco cada dia mais iminente de uma crise global derivada da água, afetando não só o abastecimento doméstico, mas também a agricultura, a indústria e a biodiversidade.

Mas vejamos: enquanto a atividade humana gera cerca de 360 mil milhões de m³ de água residual por ano globalmente – o equivalente ao consumo de 6,5 mil milhões de pessoas – apenas 11% é tratada e reutilizada a nível mundial. Em solo português, essa percentagem desce para uns meros 1,2%. Este contraste evidencia um potencial enorme e inexplorado para a gestão hídrica do nosso país.

Este cenário exige uma mudança de paradigma urgente. A reutilização de água residual não é apenas uma alternativa viável; é uma necessidade imperativa para garantir a gestão sustentável dos nossos recursos hídricos, promover a economia circular e proteger os nossos ecossistemas para as gerações futuras.

Reutilização de Água Residual: Uma Solução com Múltiplos Benefícios

Apesar da baixa taxa atual, Portugal tem um enorme potencial para a reutilização de água residual, especialmente quando comparado com vizinhos como Espanha, que já atinge cerca de 12% de reutilização. Os benefícios da reutilização são claros, abrangentes e alinhados com os princípios da economia circular:

• Reforço dos Recursos Hídricos: Ao reutilizar água, preservamos os recursos de água doce, tanto em termos de quantidade como de qualidade, reduzindo a pressão sobre aquíferos e rios.

• Resiliência Climática: A reutilização permite-nos enfrentar os desafios criados pelas mudanças climáticas, reduzindo as situações de escassez de água, mitigando os riscos de secas sazonais e preservando a atratividade e a habitabilidade dos territórios.

• Apoio à Economia Local: Esta prática inovadora controla os custos de água e energia para empresas e municípios, atrai e mantém atividades industriais que dependem de um abastecimento hídrico fiável, apoia a agricultura com uma fonte de água consistente e mantém o abastecimento confiável para zonas urbanas e turísticas, impulsionando o desenvolvimento económico.

Cada projeto de reutilização é único e requer uma abordagem personalizada. A Veolia considera cuidadosamente o propósito final da água (seja para rega, indústria ou outros), a qualidade da água de origem e as tecnologias de tratamento mais adequadas. Desde a desinfeção simples até processos avançados como a osmose inversa, dominamos um vasto leque de soluções para garantir a qualidade exigida, implementando múltiplas "barreiras" de tratamento para assegurar a segurança e eficácia.

Como transformar água residual em recurso

Com 170 anos de experiência e presença em 58 países, a Veolia é líder mundial na gestão de recursos hídricos. Em 2023, reutilizámos cerca de 1,1 mil milhões de m³ de água em mais de 280 contratos, o equivalente ao consumo de 20 milhões de pessoas. Esta água é utilizada para os mais diversos fins:

• Agricultura (40%)

• Usos Urbanos (35%)

• Usos Industriais (14%)

• Usos Ambientais (8%)

• Consumo Humano (3%)

A seleção da tecnologia de tratamento é crucial. Dependendo da qualidade da água de origem e do uso final pretendido, podemos implementar desde tratamentos secundários biológicos, que removem a matéria orgânica biodegradável, até etapas terciárias e avançadas, como filtração por membranas (microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, osmose inversa), ozonização ou filtração em carvão ativado, garantindo a remoção de micropoluentes e a adequação para os fins mais exigentes.

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