Como melhorar a qualidade do plástico reciclado?

O ciclo de vida do plástico coloca uma dupla questão: nem todos os plásticos são recicláveis e nem todos os plásticos recicláveis são reciclados. Mas existem muitas opções para promover a economia circular do plástico, nomeadamente melhorar a qualidade dos produtos reciclados.

 

Quando o tema é reciclagem de plástico, sabemos que o caminho que temos pela frente é ainda longo. De acordo com os números mais recentes do Eurostat, de 2017, quase dois terços (65%) das embalagens de plástico ficam por reciclar e apenas 35% do total segue para os canais de reciclagem. Desta pequena minoria, apenas 70% são efetivamente reutilizadas e 30% acabam incineradas ou depositadas em aterros.

Já em 2020 Portugal viu nascer o Pacto Português para os Plásticos - uma plataforma de colaboração que reúne os diferentes atores da cadeia de valor nacional do plástico: Governo, produtores, retalhistas, entidades de reciclagem, universidades, ONGs, associações, e outros. A Veolia é membro fundador da plataforma de que fazem parte mais de 50 entidades  comprometidas com 5 metas ambiciosas estabelecidas para 2025:

  • Definir, até 2020, uma listagem de plásticos de uso único considerados problemáticos ou desnecessários e definir medidas para a sua eliminação;
  • Garantir que 100% das embalagens de plástico são reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis;
  • Garantir que 70%, ou mais, das embalagens plásticas são efetivamente recicladas, através do aumento da recolha e da reciclagem;
  • Incorporar, em média, 30% de plástico reciclado nas novas embalagens de plástico;
  • Promover atividades de sensibilização e educação aos consumidores (atuais e futuros) para a utilização circular dos plásticos.

 

O Pacto Português para os Plásticos é coordenado pela Associação Smart Waste Portugal, com o apoio do Ministério do Ambiente e da Ação Climática; Ministério da Economia e Transição Digital; e Ministério do Mar, e é parte da Rede dos Pactos para os Plásticos da Fundação Ellen MacArthur.

legislação europeia, que determina uma incorporação de 25% de plástico reciclado nas garrafas PET a partir de 2025 e de 30% em todas as garrafas de plástico a partir de 2030, vem colocar pressão sobre a necessidade de melhorar a qualidade da reciclagem do plástico.

Estas metas, motivadas por questões ambientais, implicam que o material reciclado, sobretudo nas embalagens alimentares, seja de muito boa qualidade. A produção de uma garrafa de PET reciclado emite menos 70% de CO2 do que a de uma garrafa de PET virgem, obviamente também com impacto positivo ao nível da redução da poluição de plástico, nomeadamente nos oceanos.

 

Em Rostock, na Alemanha, a Veolia já recicla mil milhões de garrafas de plástico todos os anos para uso como embalagem alimentar. 

 

> O plástico reciclado é comparável ao plástico virgem?

Hoje, os centros de reciclagem dependem em larga medida de processos mecânicos, que consistem em esmagar o plástico partindo-o em pequenos flocos, que são então processados e transformados em grãos de plástico, cuja qualidade é comparável ao plástico virgem. Este processo permite à Veolia produzir PET reciclado que pode integrar 50% a 70% da composição de uma nova garrafa. No futuro, esta percentagem poderá ser de 100%, diz Benoit Perreau, responsável pela área de negócio da Reciclagem de Plástico no Grupo Veolia. Há, ainda assim, um outro lado: «Com raras exceções, e em particular no que diz respeito ao PET transparente, não é  possível produzir um produto autorizado para embalagem de alimentos, apesar da procura.» 

No caso do PET colorido ou PET com várias camadas, e outros materiais como o polietileno (presente nos sacos de plástico) e polipropileno (usado na indústria automóvel e nas embalagens alimentares, entre outras coisas), é mais complicado. « Obter uma resina reciclada comparável com uma resina virgem em termos de aspeto é mais difícil» explica.

Por esse motivo é fundamental facilitar a reciclagem do plástico desde o início da sua cadeia de valor, « tornando-o o passível de ser reciclado desde o momento em que se desenha uma garrafa, isto é, utilizando apenas um tipo de resina ou aceitando que uma garrafa produzida de materiais reciclados não poderá ser totalmente transparente» realça Benoit Perreau. A nova embalagem de pastilhas para máquinas de lavar Finish Quantum, feitas em parceria pela Veolia e a  Reckitt Benckiser, contém 30% de plástico reciclado e é cinzenta (sem pigmentos ou aditivos).

> O futuro está na reciclagem química?

Para melhorar a reciclagem a indústria tem vindo a fazer uma abordagem crescente aos processos químicos.  São processos ainda em fase de investigação ou piloto e incluem a pirólise, que consiste em aquecer o plástico a altas temperaturas para obter um produto de hidrocarbono, e a separação material, útil no caso das embalagens que contêm várias camadas de diferentes resinas. 

«O objetivo é conseguir chegar ao monómero, o componente de base, utilizando várias tecnologias.»  diz Benoit Perreau, enumerando várias iniciativas como a Carbios, com foco na bioreciclagem.

O princípio consiste em usar enzimas, catalizadores biológicos, para separar as moléculas de PET, de forma a despolimerizar o material para ser reciclado. A ideia é purificar e repolimerizar de forma a podermos reciclar o plástico infinitamente. Estas técnicas também se aplicam a plásticos coloridos (nomeadamente PET).

« Neste momento ainda não estamos a trabalhar em escala industrial, por razões económicas e também técnicas, mas a pressão sobre as marcas para usarem plásticos reciclados é de tal forma que a reciclagem química irá necessariamente desenvolver-se rapidamente nos próximos meses e anos »  antecipa, descrevendo a sua visão para o plástico do mundo de amanhã « embalagens feitas de um único material contendo 100% de material reciclado, obtido quer por processos mecânicos quer químicos»

 

> E como garantir que as embalagens chegam à reciclagem?

Obviamente, para ser reciclado, os resíduos de plástico têm de chegar aos centros de triagem e reciclagem, caso contrário, estas unidades não têm material suficiente para reciclar e o cumprimento das metas ficará sempre aquém. "Uma parte muito importante de todo o processo é garantir que as embalagens, depois de usadas pelos consumidores, efetivamente entram no processo de reciclagem. Esse caminho iniciou-se com a recolha seletiva, em ecopontos ou porta-a-porta, mas nos últimos anos tem evoluído para novos sistemas e equipamentos, como são exemplo as reverse machines, os sistemas PAYT (pay as you throw) aplicados à recolha porta-a-porta e aos ecopontos, a georreferenciação a apoiar a recolha seletiva e outros modelos, mais informais, como é o caso do projeto Yo-Yo, com o gaming a dinamizar dentro da comunidade uma recolha seletiva mais dinâmica e eficaz", sublinha Miguel Aranda da Silva, diretor de Resíduos da Veolia Portugal.

A sensibilização para a correta separação dos resíduos passíveis de serem reciclados e a sua deposição nos locais adequados desempenha a este nível um papel essencial e duplo: mais resíduos encaminhados para reciclagem e menos poluição, nomeadamente ao nível do lixo marinho.